Varal de Cordéis Joseenses

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(Sugestões de temas são bem vindas!)



quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Apresentação do Cordel Joseense 91 em evento no INPE

   Segue o link para a apresentação do CJ91, cordel sobre um projeto social e educativo desenvolvido por René Novaes Jr (INPE) e diversos parceiros. Viva a pesquisa social e colaborativa!


quinta-feira, 24 de outubro de 2019

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

CJ 90 - Cordel Pela Amazônia




Saudações, caros amigos!
Não vou fazer cerimônia
para tratar de um assunto
que tem provocado insônia
- precisamos refletir
  e falar sobre a Amazônia.

A Amazônia representa
mais de 50 por cento
das florestas tropicais
do planeta. Não invento:
Amazônia, meus amigos,
é universo e não fragmento.

O bioma é muito rico:
ficamos impressionados
pelo número de plantas
e animais catalogados
em mais de cinco milhões
de quilômetros quadrados.

Um naturalista austríaco,
Carl von Martius, precisou
de 15 imensos volumes
- foi onde ele compilou,
 no século dezenove,
 fauna e flora que observou.

A biodiversidade
é imensa neste ambiente:
há mais de 14 mil 
diferentes plantas, gente!
Quase 7 mil são árvores,
diz um estudo recente.

Disso tudo, o mais incrível:
veja uma árvore apenas
e você estará diante,
simplesmente, de centenas
de animais, microorganismos,
vidas grandes e pequenas.

Um paradoxo, porém,
em pesquisas percebi:
a tão falada Amazônia,
hoje é sim, pelo que vi,
centro de atenções no mundo,
mas... periferia aqui.

Estima-se em 10 por cento a
fotossíntese do mundo
nas árvores da Amazônia:
é um processo fecundo.
Pensar que está ameaçado
causa desgosto profundo.

Nos versos deste cordel,
para vocês eu explico:
a questão é que o Brasil
em Natureza é bem rico,
mas quem desmata, saqueia
- mais que pagar, mata mico.

Quanto ao ciclo de carbono,
várias décadas de estudo
são necessárias pra gente
compreender, não me iludo.
Quem pesquisa a vida inteira
ainda não entende tudo.

Por isso mesmo é que aquele
que à pesquisa se dedica
merece nosso respeito:
toda humanidade fica,
no estudo, mais consciente
e, em sabedoria, rica.

“Louvado sejas, Senhor,
 por nossa irmã, a mãe Terra”,
disse Francisco de Assis,
séculos antes da guerra
por recursos naturais
que hoje, quem teme não erra.

Disse o papa em sua encíclica:
internacionalizar
o controle da Amazônia
só faria piorar
os problemas sociais,
pra que alguns possam lucrar.

Ecologia integral:
tema atual e fecundo:
Esse novo paradigma
é um modo de ver o mundo
em que tudo se interliga
com laço real, profundo.

Não há como fragmentar:
aquecimento global,
veneno e desmatamento
geram crise social:
o mais pobre é quem mais sofre
com o drama ambiental.

As alterações climáticas
geram chuva e seca extremas,
trazendo para a Amazônia
desafios e problemas
que ninguém vai resolver
fazendo telefonemas.

Os índios têm aguçada
percepção ambiental.
Sabem ler a natureza
e, se acontece algum mal
à floresta, rapidinho
eles captam o  sinal.

É necessário escutar
cada voz amazonense;
respeitar tudo  que sabe
quem ali já vive. Pense:
temos muito a aprender
e assim todo mundo vence.

Borracha, madeira, peixe,
açaí, folhas, raízes
que têm poder curativo
fazem os índios felizes.
Extrair sem destruir:
saibamos ser aprendizes.

Por outro lado, também
temos coisas a ensinar:
morador local não deve
se deixar intimidar
e, se for ameaçado,
precisa denunciar.

Um caminho essencial
é educar comunidade:
matriz ecopedagógica
tratando em profundidade
resiliência a desastres
e sustentabilidade.

Na Amazônia (e não só lá),
com a urbanização,
houve muitos diferentes
tipos de transformação.
Cidades agora emergem
como importante questão.

Mas cidades - ouçam bem
este "aviso aos navegantes" -
com fraca infraestrutura
e 20 mil habitantes
ou até menos que isso,
vivendo hoje como antes.

Falha a economia urbana,
subempregos são gerados...
Os recursos federais
têm que ser compartilhados
e estes repasses precisam
logo ser repactuados.

Há um contraste permanente:
carência em meio à abundância.
Hospital e água tratada
precisam vencer distância
e a qualidade de vida
é baixa e sofre inconstância.

Matéria prima é exportada;
falta comida na mesa.
Temos culpa no cartório
pois louvamos “a riqueza
da Amazônia” - e que fazemos
pra combater a pobreza?

A realidade histórica:
economia de saque
nunca ajudou nosso povo
- ao contrário, traz um baque.
A riqueza vai pra fora
e até índio sofre ataque.

Mas essas dificuldades
poderão ser superadas
se as riquezas naturais
forem logo associadas
a cadeias produtivas
novas, verticalizadas.

Açaí, antigamente,
era sempre desprezado;
da árvore, só o palmito
é que era aproveitado.
Hoje o fruto tem valor
bilionário no mercado.

Qualificando mão de obra
local, com a emergência
de uma economia verde
com apoio da ciência,
o povo conseguirá
minimizar dependência.

Cacau virar chocolate
na própria comunidade
será uma revolução:
garantindo qualidade,
um "chocolate amazônico"
pode ser realidade.

Preservação da Amazônia:
quem ouve falar no tema
pensa logo em bicho e planta,
mas e o povo? Eis o dilema:
capitalismo sem freio
desmata e só traz problema.

Isso acontece porque,
quando no verde se fala,
tem gente que pensa em dólar,
quer ficar rico “na bala”...
Isso a gente denuncia,
pois o cordel não se cala.

Há uma questão econômica:
gado e soja, se há aumento
de cotação no mercado,
levam ao desmatamento.
Mas já soubemos vencer
essa pressão. Fique atento:

O desmate foi contido
num período de 6 anos
(2006 a 2012)
por decisões sem enganos.
Relato agora dois pontos
com que se conteve danos:

1) Houve restrição de crédito
a produtor-predador
2) e se equipou fortemente
o IBAMA, bom protetor,
aumentando assim o nosso
poder fiscalizador.

Há três fontes principais
de riqueza na floresta:
áreas extensas de solo,
madeira (muita ainda resta)
e produtos naturais
em que Deus se manifesta.

A mata possui, nas folhas
e nas raízes também
a cura mais natural
pros males que o homem tem:
cientistas comprovaram 
o que os índios sabem bem.

Mas a ciência deseja
para todos esta cura
e a indústria farmacêutica 
insiste numa loucura: 
rouba, patenteia e cobra
- só no marketing é "pura"!

Parece querer que o pobre
trabalhe só na extração
daquilo que lhes dá lucro,
mas, depois da produção,
só pra quem tem muita grana
é que chega a salvação.

Há solução para isto?
Sim! É preciso investir:
financiando a pesquisa,
o governo faz surgir
medicamento barato
que pro povo vai servir.

A natureza trabalha
e produz com abundância, 
mas nada é acumulado:
é usado sem ganância.
Vida é colaborativa,
tem respeito e tolerância.

O desafio amazônico:
conciliar conservação
da floresta, rios e árvores,
com a boa condição
de vida, justo desejo
de toda a população.

O mercado interno tem
importância capital;
requer que não haja abismo
social nem cultural
- e a inclusão se promove
  por via educacional.

A Amazônia é estratégica
para os planos nacionais,
mas há que se garantir
aos habitantes locais
imediato acesso aos bens
públicos fundamentais.

Um caminho a ser pensado
pode ser o Pagamento
por Serviço Ambiental
a quem tira seu sustento
da mata mas não desmata
e inda produz alimento.

Eis um apoio importante
para a meta desejada:
cobertura vegetal
mantida ou recuperada
com biodiversidade
garantida e preservada.

Na Amazônia há muitos rios,
avenidas fluviais
onde habita o peixe-boi
(com três metros, quase ou mais),
junto a microorganismos,
outros peixes e animais.

Quando a agricultura faz
uso de fertilizantes,
estes poluem os rios
com reflexos preocupantes.
Com o mercúrio, o garimpo
já contaminava antes...

O garimpo atinge em cheio
os rios, o meio ambiente
e os povos originários:
o índio fica doente,
com malária e diarreia...
Homem branco inconsequente!

A verdade é triste mesmo,
mas não vamos recuar:
um grave problema agora
precisamos abordar,
para que o país inteiro
possa se conscientizar.

Quadrilhas extraem madeira
e ameaçam moradores.
Miram, por exemplo, ipê,
que sempre tem compradores.
Usam trator, motosserra e
caminhões carregadores.

Depois de extrair madeira,
falsificam sua origem:
fraudam planos de manejo
- só de falar dá vertigem -
e abrem espaço pro fogo,
sem se importar com fuligem.

Cada "árvore valiosa"
é depressa retirada
e o que fica é só clareira
vulnerável a queimada.
Meses depois, os bandidos
completam sua empreitada:

com o terreno já seco,
queimam mais e, enquanto agem,
geram documentos falsos
- a conhecida grilagem.
Depois do capim plantado,
o boi completa a paisagem.

Muitos dos que lutam contra
estes acontecimentos
são perseguidos e mortos,
pra nossa dor e lamentos.
A Igreja diz: em 10 anos,
morreram mais de 300.

Um paradoxo cruel:
reduziu-se a ocorrência
de multas ambientais!
Bandidos ganham clemência
e há mesmo quem esbraveje
contra alertas da ciência...

A estimativa que temos
hoje aponta pra desgraça:
duas mil árvores caem
num minuto que se passa!
Não seremos coniventes:
rejeitamos a mordaça.

Muito deserto atual
pelo homem já foi feito.
Desertificar a mata
nunca foi nem é direito.
É tarde? Nós protestamos
pela Vida enquanto há jeito.

Se a violência prossegue
e a floresta é devastada,
há sanções comerciais:
não se investe ou compra nada.
Assim, nem a economia
justifica essa jornada.

O que todos defendemos:
o fim de ataques verbais
contra os ativistas, índios 
e ONGs ambientais,
que devem ser apoiados
pra que ninguém morra mais.

Falemos menos:  lutemos
pra salvar o que nos resta.
Desliguemos motosserras,
calemos o que não presta.
Somente assim, em silêncio,
ouviremos a floresta.

É preciso retomar
toda a fiscalização.
Desmatamento ilegal
merece um sonoro "NÃO!"
e que o povo da Amazônia
tenha nossa compaixão.

Temos que honrar a memória 
de Rondon, Darcy Ribeiro
e do grande Chico Mendes,
ativista e seringueiro
que defendeu com a vida
este solo brasileiro.
Paulo R. Barja


REFERÊNCIAS CONSULTADAS

BETIM, F. O inédito respaldo do Planalto a garimpeiros de áreas protegidas na Amazônia. El País, 17/09/2019. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2019/09/17/politica/1568756593_921467.html. Acesso: 18 set. 2019.

CAMILO, M. Amazônia Real, 21/21/2017. Disponível em:  https://amazoniareal.com.br/garimpo- provoca-a-morte-de-rios-e-traz-doencas-ao-indios-munduruku-no-para/. Acesso: 18 set. 2019.

CASTRO, F. Micróbios das Florestas. Agência FAPESP, 14/01/2011. Disponível em: http://agencia.fapesp.br/microbios-das-florestas/13319/. Acesso: 18/9/2019.

COUSTEAU, J. Ode à Amazônia - A Grande Aventura de Cousteau, v.34. Barcelona: Altaya, 1997.

GADELHA, A. No Acre, jovens aceitam subempregos e mudam de cidade para fugir da informalidade. G1, 21/06/2019. Disponível em: https://g1.globo.com/ ac/acre/noticia/2019/06/21/no-acre-jovens-aceitam-subempregos-e-mudam-de-cidade-para-fugir-da-informalidade.ghtml. Acesso: 18 set. 2019.

GLOBO/AFP. Agricultura na Amazônia 'alimenta' formação de mancha gigante de algas marrons. O Globo, 03/08/2019. Disponível em: https://oglobo.globo.com/sociedade/agricultura-na-amazonia-alimenta-formacao-de-mancha-gigante-de-algas-marrons-23853721. Acesso: 19 set. 2019.

GORTÁZAR, N.G. Brasil só julgou 14 dos 300 assassinatos de ambientalistas da última década. El País, 17/09/2019. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2019/09/16/politica/1568661819_648829.html. Acesso: 17 set. 2019.

MELO, A. F. Dilemas e desafios do desenvolvimento sustentável da Amazônia: O caso brasileiro. Rev. Crít. de Ciências Sociais, 107, p.91-108, 2015. Disponível em: https://journals.openedition.org/rccs/6025. Acesso: 16 set. 2019.

MOON, P. Pesquisadores revelam diversidade de plantas na Amazônia. Agência FAPESP, 23/10/2017. 
Disponível em: http://agencia.fapesp.br/ pesquisadores-revelam-diversidade-de-plantas-na-amazonia/26468/. Acesso: 12 set. 2019.

MOTA, E. Câmara aprova projeto que prevê pagamento para quem preservar meio ambiente. Congresso em Foco, 03/09/2019. Disponível em:
https://congressoemfoco.uol.com.br/congresso-em-foco/camara-aprova-projeto-que-preve-pagamento-para-quem-preservar-meio-ambiente/. Acesso: 19 set. 2019.

PORTAL AMAZÔNIA. Professor do Pará lança livro sobre a relação entre desmatamento da Amazônia e pobreza, 16/01/2019. Disponível em: http://portalamazonia.com/noticias/professor-do-para-lanca-livro-sobre-a-relacao-entre-desmatamento-da-amazonia-e-pobreza. Acesso: 19 set. 2019.

sexta-feira, 13 de setembro de 2019

CJ 89 - Pensando a Literatura com Valter e Conceição

(Cordel escrito como relatoria da mesa de abertura do evento FLIM 2019 no Parque Vicentina Aranha, São José dos Campos)



Venho em versos dar bom dia
aos amigos da leitura
que bem sabem da importância
de abordar literatura,
pois um povo só resiste
quando defende a cultura.

Foi em plena "sexta treze"
que a festa se iniciou
com programação de peso,
pois Marcelino escalou,
junto com Carol, um time
que prenunciava gol.

Cláudio do Vale mostrou
"Sertania Nordestina",
que apresenta há 20 anos
com energia divina
a vida do grande Lua:
Luiz Gonzaga e sua sina.

Frente ao palco principal,
Icamiabas vieram;
essas guerreiras do som
canto e batuques fizeram.
"A resistência é mulher,
tem graça e força", disseram.

Após o axé das meninas
- musical iniciativa -
o público só crescia
e aumentava a expectativa...
Marcelino veio ao palco
com Carol, parceira ativa.

Homenageou-se Zé Mira,
"o último dos tropeiros",
mestre em Folia de Reis
e patrono dos violeiros
do Vale do Paraíba
e nossos tantos festeiros.

Numa canção de Zé Mira
mostrada pelo seu filho, 
Paraíba é mais que um rio:
é vida, cor, estribilho.
Precisa ser defendido
contra o industrial gatilho.

Depois dos versos caipiras
- e esperávamos por isto -
veio Valter Hugo Mãe
com Conceição Evaristo.
Ela conta sua origem...
"Escrevo, por isso existo...

A minha palavra vem
da mãe, de suas histórias
e também do seu silêncio;
lembranças sáo ilusórias
e a palavra, aviso logo,
não dá conta das memórias."

Valter Hugo Mãe nos diz:
"Ao invés do que se pensa,
é de um vazio que há por dentro,
de uma solidão intensa
e de tudo que me falta
que a palavra faz presença."

E Conceição, ao falar
das marcas da oralidade,
diz que isso é um desafio:
"Mais que palavra, a vontade
é escrever um som, um gesto.
O corpo fala, é verdade!"

Valter diz que oralidade
é uma força feminina:
"Minhas irmãs... suas falas
eram iguaria fina
para um futuro escritor,
mesmo se ele desatina...

Meu pai teve 20 irmãos:
que vontade de ser pobre!
A família, grande assim,
vivia sempre sem cobre
e foi pra França, ironia,
que é terra de gente nobre.

Tudo era muito confuso
e isso me dava o tom:
confusão, quando se escreve,
vira um combustível bom
e as palavras mais bonitas
tinham feminino som."

Diz Conceição: "Minha mãe
teve força visionária:
com revista, improvisava
oficina literária.
A gente criava história
sobre foto até precária.

Ganhei uma biblioteca
na Praça da Liberdade,
onde a tia trabalhava;
passei a ler à vontade.
Montei então um caixote-
mesa-estante: novidade..."

Valter diz: "Até os 10 anos,
eu lia o que era de irmão,
pois pra mim faltavam livros
e a mãe quase disse NÃO
quando eu quis um de terror.
Olha, menino, atenção...!

Li, na presença de adultos.
Na Vila dos Pescadores,
a biblioteca era longe
como a escola, sim, senhores
- pra conseguir por ali
o que ler, sofri horrores!

Colecionando palavras,
comecei a escrever.
Preenchia meus cadernos
meio assim, sem perceber.
Maputo? Palavra estranha:
Mais uma pra recolher!

Assim, comecei com trovas,
de uma forma natural.
Não sabia ser poesia
o que eu fazia, afinal.
Palavras tinham fascínio
e eu me achava o maioral."

"Eu adorava mentiras",
revelou-nos Conceição.
"Exagerava nos textos,
mentia sem compaixão
cada vez que precisava
criar uma redação.

Aos poucos, inda menina,
conquistei o meu espaço.
Ganhei missal num concurso
e escrevi, pois é o que faço:
"Rumo à glória literária
 esse é meu segundo passo!"

Carol fala da ternura
de personagens e autores.
Diz Conceição: "São família;
compartilham suas dores
e até seus fluidos comigo.
São cúmplices-professores.

De todos, Maria Nova
teve destaque pra mim:
essa é minha companheira
e confesso aqui na FLIM
que um dia talvez eu faça
autobiografia enfim..."

Diz Valter: "Eu não me afasto
das figuras que criei
pois sempre existe alguém lendo
o que escrevi e já nem sei.
Por isso é que não esqueço,
mas minha escrita é sem lei:

Quanto mais surrealista
o que escrevo, mais real.
Às vezes, até disfarço,
para deixar mais banal
aquilo que em minha vida
era MESMO surreal."

Conceição diz: "Uma frase
que escuto já é pretexto:
Vó Rita dormia embolada
comigo - isso dá texto!
Num bar, tomando cerveja,
fica perfeito o contexto..."

Diz Valter: "Quando eu escuto
uma pergunta, imagino
respostas tão delirantes
que margeiam desatino.
Construo assim meu processo,
escrevo e depois refino.

O corpo de uma mulher
pode espoletar a obra.
O real nunca me basta;
escrevo a parte que sobra
ou a que falta, quem sabe
- o real jamais me dobra."

Conceição diz: "Eu queria
viver somente de escrita,
mas o entorno contamina,
por isso não fico aflita:
coleciono o que observo.
É uma coisa até bonita..."

Valter fala do trabalho
de escrever com sentimento:
"Sempre digo que o autor
faz pacto de sofrimento;
se alguém disser que não gosta
do que fiz, sofro, lamento.

Enfim: só um imbecil
perde a angústia, isso é fato,
pois há sempre alguém sofrendo
fome, dor ou desacato.
Mas há um sobrinho nascendo:
isso é bom, perfeito, exato..."

Foi assim a prosa boa
de Valter e Conceição.
Quem esteve aqui no dia
poderá me dar razão.
E o sábado já começa
cheio de satisfação:

Vem Ângela Savastano,
nossa aluna-professora,
mestra de tantos de nós,
mãe e avó, contadora
de histórias, fatos e causos.
Na vida, grande doutora!

Elisa, Odilon, Adriana
são ótima companhia.
Sônia e Ângela, que luxo,
chegam pra nos dar bom dia.
Desejo a todos, então,
boa prosa, boa poesia!


(Paulo R. Barja)