A cada 15 de outubro,
nós precisamos lembrar
de uma grande professora
que soube nos ensinar
muito além até da sala,
pois quem sabe não se cala
- e vale a pena escutar.
Antonieta de Barros
foi formada professora
e a sua história de vida
é muito esclarecedora:
mostra a força feminina
de quem revelou ter sina
de mulher batalhadora.
Nascida em Florianópolis
em 1901,
Antonieta teve infância
bem humilde, até comum.
Seu registro só aponta
nome da mãe, que desponta;
mas nome do pai? Nenhum.
Catarina, sua mãe,
viveu a escravidão.
Liberta, foi lavadeira
e depois abriu pensão
onde abrigava estudantes;
vivia melhor que antes,
mas luxo não tinha não.
Foi assim, nesse ambiente,
que Antonieta estudou:
com os jovens da pensão
é que se alfabetizou
e, para adquirir cultura,
no universo da leitura
Antonieta mergulhou.
Não tinha nem 20 anos
quando abriu curso: queria
alfabetizar adultos
daquela periferia,
mas deu aula até pra elite,
depois que ganhou convite
de escola da burguesia.
Em seguida, acumulou
no currículo outro ofício.
Em seus textos pro jornal,
só abordou tema díficil:
preconceito, educação,
política - por que não?
Cada texto era um míssil.
"Mulher não tem que opinar,
pois nasceu para servir!"
"Seja rainha do lar,
não queira nos dirigir!"
Os homens da oligarquia
reclamavam todo dia:
"Ela não vai desistir?"
"Não somos virgens de ideias",
respondia Antonieta,
que afrontava aqueles ricos:
era mulher, pobre e preta!
E com sua visão crítica,
embrenhou-se na política:
não fugia de uma treta.
Foi na década de 30
que a novidade surgiu:
uma deputada negra,
a primeira do Brasil
- era ela, Antonieta!
Brancos fizeram careta,
porém, firme, ela seguiu.
Voz da luta feminina
em meio ao patriarcado,
escreveu diversos trechos
da Constituição do Estado,
mas quando Getúlio veio,
seu destino ficou feio:
o mandato foi cassado.
Passou-se então uma década.
A ditadura acabou
e Antonieta, no voto,
para a Assembleia voltou;
Porém, simultaneamente,
sua carreira docente
ela nunca abandonou.
Neste segundo período,
ela criou o projeto
depois oficializado
numa lei plena de afeto,
cidadania e valor:
o Dia do Professor
foi aprovado sem veto.
Na década de 40,
a data era estadual;
foi no governo de Jango
que o Brasil, afinal,
aprovou sua extensão
e o 15 de outubro então
passou a ser nacional.
Mesmo depois disso tudo,
houve um historiador
que ofendeu Antonieta
com uma frase de horror:
"Essa negra quando fala
é intriga de senzala!"
Mas por que falar da cor?
Antonieta respondeu:
- Fizemos do magistério
a razão de nossa vida,
o nosso ofício mais sério.
Respondo aqui no jornal
pois essa ofensa banal
não levo pro cemitério.
- Sua Excelência, por sorte,
poupa o povo da desgraça
pois não quer ser professor.
Há quem bem melhor o faça;
um professor, pra existir,
nunca deve distinguir
nenhuma classe nem raça.
Essa professora incrível
que tanto nos ensinou
era bem jovem ainda
quando, por fim, descansou:
50 anos de idade.
Mas ganhou eternidade
pelo que realizou.
Antonieta, por certo,
sempre manteve nobreza
e dizia que, da vida,
a sua maior grandeza
estava na Educação.
Eu concordo; e vocês, não?
Seja nossa essa certeza.
P arabéns aos professores:
R espeito, afeto e coragem.
B elo é o ofício exercido:
A rte humana da mensagem
R enovada a cada dia
J unto àquele que inicia
A ulas e aprendizagem.
Paulo R. Barja,
14 de outubro de 2021.
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