Uma dupla diferente
se encontrou por um caminho:
um no chão, outro nos ares,
tartaruga e passarinho
- ela carregando a casa,
ele voando pro ninho.
Tartaruga era tranquila,
passarinho era apressado.
Começou a discussão:
quem seria o mais versado
nas histórias deste mundo?
Cada um via o seu lado.
Por fim, eles se acalmaram,
mas a cisma era tamanha
que marcaram um encontro
lá no alto da montanha
e fizeram uma aposta:
vamos ver quem é que ganha.
Passarinho teve a idéia.
- Vamos guardar na memória
tudo aquilo que encontrarmos:
cada coisa, cada história.
Quem juntar mais novidades
será o dono da vitória!
E disse: - Pra mim é fácil!
Sou veloz, não sou incauto;
vejo as árvores e os bichos,
vejo tudo aqui do alto
e não preciso de estrada
nem de terra, nem de asfalto.
– Você quer abrir as asas?
Acha que é melhor voar?
Então voe, vá na frente,
a estrada é o meu lugar.
Vou tranqüila, não me espere,
que eu prefiro caminhar.
Passarinho foi ligeiro:
passou por cima de tudo.
Lá embaixo, a tartaruga
só pensava: “Não me iludo;
quem tem pressa chega antes,
mas o tempo é meu escudo.”
Cada um foi pro seu lado.
Fez calor, choveu, fez frio...
Bem depois, se reencontraram;
tartaruga então sorriu
e disse pro passarinho:
- Conte-me agora o que viu.
Ao ouvir esta pergunta,
passarinho, displicente,
já foi logo abrindo o bico,
respondeu rapidamente:
vi tudo que é bicho e planta,
conheci tudo que é gente!
E contou mil aventuras;
falou bem mais de uma hora.
Tartaruga ouvia atenta,
nem pensava em ir embora.
Quando o pássaro acabou,
tartaruga disse: - Agora
fique aí bem pousadinho,
também tenho o que contar.
Conheci muitas histórias
da terra e até do ar,
de outros pássaros que às vezes
paravam pra conversar.
Vim sem pressa, reparando
no que havia pra se olhar;
vi abelhas passeando
sobre as flores, a bailar;
vi a cigarra cantando
e a formiga a trabalhar.
Parava onde havia água,
a fim de me refrescar
e soube, através dos peixes,
lendas do rio e do mar,
mas como isso leva tempo,
demoreeeeeeeeeei para chegar.
Devagar conheço o mundo,
vejo os detalhes de frente.
Quem voa, passa por cima;
do lado é bem diferente:
quem não tem o casco grosso,
passe longe de serpente!
E os dois foram percebendo
que podiam ser amigos,
ajudando um ao outro,
enfrentando os inimigos;
se um não via, o outro notava
e avisava dos perigos.
Hoje é bonito de ver
quando os dois passeiam juntos,
um do alto, outro do chão:
que tanto falam, pergunto?
Podem ser bem diferentes,
mas têm sempre muito assunto!
Paulo R. Barja (2010)
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