Varal de Cordéis Joseenses

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segunda-feira, 14 de novembro de 2022

Tartaruga e Passarinho (Paulo Barja) - primeira versão do cordel, completa

 



Uma dupla diferente
se encontrou por um caminho: 
um no chão, outro nos ares,
tartaruga e passarinho
- ela carregando a casa, 
  ele voando pro ninho.

Tartaruga era tranquila,
passarinho era apressado.
Começou a discussão:
quem seria o mais versado
nas histórias deste mundo?
Cada um via o seu lado.

Por fim, eles se acalmaram,
mas a cisma era tamanha
que marcaram um encontro
lá no alto da montanha
e fizeram uma aposta:
vamos ver quem é que ganha.

  Passarinho teve a idéia.
- Vamos guardar na memória
  tudo aquilo que encontrarmos:
  cada coisa, cada história.
  Quem juntar mais novidades
  será o dono da vitória!

  E disse: - Pra mim é fácil!
  Sou veloz, não sou incauto;
  vejo as árvores e os bichos,
  vejo tudo aqui do alto
  e não preciso de estrada
  nem de terra, nem de asfalto.

– Você quer abrir as asas?
Acha que é melhor voar?
Então voe, vá na frente, 
a estrada é o meu lugar.
Vou tranqüila, não me espere,
que eu prefiro caminhar.

Passarinho foi ligeiro:
passou por cima de tudo.
Lá embaixo, a tartaruga
só pensava: “Não me iludo;
quem tem pressa chega antes,
mas o tempo é meu escudo.”

Cada um foi pro seu lado.
Fez calor, choveu, fez frio...
Bem depois, se reencontraram;
tartaruga então sorriu
e disse pro passarinho:
- Conte-me agora o que viu.

Ao ouvir esta pergunta,
passarinho, displicente, 
já foi logo abrindo o bico,
respondeu rapidamente: 
vi tudo que é bicho e planta,
conheci tudo que é gente!

E contou mil aventuras;
falou bem mais de uma hora.
Tartaruga ouvia atenta,
nem pensava em ir embora.
Quando o pássaro acabou,
tartaruga disse: - Agora

fique aí bem pousadinho,
também tenho o que contar.
Conheci muitas histórias
da terra e até do ar,
de outros pássaros que às vezes
paravam pra conversar.

Vim sem pressa, reparando
no que havia pra se olhar;
vi abelhas passeando
sobre as flores, a bailar;
vi a cigarra cantando
e a formiga a trabalhar.

Parava onde havia água,
a fim de me refrescar
e soube, através dos peixes,
lendas do rio e do mar,
mas como isso leva tempo,
demoreeeeeeeeeei para chegar.

Devagar conheço o mundo,
vejo os detalhes de frente. 
Quem voa, passa por cima;
do lado é bem diferente:
quem não tem o casco grosso,
passe longe de serpente!

E os dois foram percebendo
que podiam ser amigos,
ajudando um ao outro,
enfrentando os inimigos;
se um não via, o outro notava
e avisava dos perigos.

Hoje é bonito de ver
quando os dois passeiam juntos,
um do alto, outro do chão:
que tanto falam, pergunto?
Podem ser bem diferentes,
mas têm sempre muito assunto!

Paulo R. Barja (2010)

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