Varal de Cordéis Joseenses

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segunda-feira, 20 de junho de 2016

CJ 67 - Um Olhar Antropológico (a benção, mestre Brandão!)


(homenagem a um professor e principalmente ser humano inspirador: viva Brandão!
obs.: atentem para as duas opções de capa: dois belíssimos trabalhos de Tina Lemos)

No Brasil, em 5 séculos,
muita coisa já mudou;
a diversidade é tanta
que um dia até me assustou:
antropólogo de bic
e o índio com datashow.

Antigamente, as palestras
- explicou mestre Brandão –
não eram “de meia hora”,
tinham longa duração:
Falava-se até 3 horas
sem haver contestação! 

Os encontros com Brandão
são sempre muito informais:
muitos causos diferentes,
papos francos e atuais
sem desfilar o currículo
- seria chato demais.

Nossa vida é muito doida:
trabalha-se até na cama
lendo trabalhos diversos.
Quando o compromisso chama...
“Brandão, você resolveu
dar palestra de pijama?”

Uma fala bem bonita
e também reveladora:
TODO SABER TEM CONTEXTO!
Tenha a alma acolhedora.
Quando se fala de almoço,
a cozinheira é doutora!

A pergunta crucial
a fazer: O QUE É CULTURA?
Será que é coisa do Homem,
com a sua arquitetura
de pensamentos e coisas?
Mas... e a Natureza pura?

Até mesmo o chimpanzé
(nessa hipótese me amarro),
depois de ser ensinado
pode bem dirigir carro...
Mas o melhor arquiteto
pra casa é o João de Barro!

A ciência nos ensina,
às vezes comete enganos,
mas temos a mesma origem:
SOMOS TODOS AFRICANOS.
Saber transformar o mundo
é o que nos faz ser humanos.

Levi Strauss diz outra coisa:
já moramos em cavernas,
mas o que nos faz torna homens
são transformações internas.
Mudar, dentro de nós mesmos:
as mudanças são eternas.

Carregamos, desde sempre,
marcas no DNA,
mas nossas leis sociais
existem, lá como cá,
criadas para o convívio
harmônico – é o que há.

Com o tempo, nós passamos
da fase só do SINAL
para uma era de SIGNOS,
evolução bem real,
até atingir os SÍMBOLOS:
fineza intelectual.

Fazemos, o tempo inteiro,
valiosas reflexões;
com isso, criamos regras
e algumas proibições
traduzidas em complexos,
em tabus e restrições.

Há princípios a seguir
até pra gerar herdeiros
e normas que são ditadas:
circular bens e parceiros
exige certos cuidados
- não basta seguir os cheiros...

Seguimos assim a vida.
Olhamos para as estrelas.
Na madrugada, em silêncio,
Como é fantástico vê-las!
(Se for em Minas Gerais,
erga as mãos e irá prendê-las.)

Temos até rituais
para reciprocidade:
são festas de aniversário,
encontros pela cidade,
folias de Santos Reis,
horas de felicidade.

Na MODERNIDADE LÍQUIDA,
a cultura, fragmentada,
do liquidificador
sai bastante transformada.
Até crença religiosa
muda a cada temporada!

São dimensões da cultura
as PRÁTICAS DO FAZER,
mas a ÉTICA DO AGIR
nos pede pra obedecer
certos princípios internos
que não se pode esquecer.

Os nossos procedimentos
têm um tom gramatical,
porém vão além das letras:
há muito mais, afinal.
Falo aqui de uma GRAMÁTICA
SOCIAL E CULTURAL.

Nossas ideologias
(de querer e de poder)
e teorias científicas
são LÓGICAS DO SABER:
são universos simbólicos
que guiam nosso viver.

Eis o OLHAR ANTROPOLÓGICO:
um olhar de estranhamento!
Desnaturalização
de tudo, a cada momento.
Interagir com o povo:
festa, conversa, alimento...

Uma dúvida do mestre:
é cultura popular
o RAP da periferia
que a moçada ama cantar?
A resposta que ele ouviu
colocou-o pra pensar:

“É claro que é popular;
a nossa comunidade
recebeu essa influência
de outro país ou cidade,
apropriou-se e agora
é nossa expressividade!”

No fundo, é sempre isso mesmo
- e a cultura do lugar
sofre também influência
daquele que, ao viajar,
faz a ponte entre as culturas
erudita e popular.

Fronteiras são convenções.
Artista é o embaixador
que leva de um canto a outro
seu trabalho, sim senhor,
mas também a voz do povo,
que carrega com amor.

                                                          P ara encerrar, eu espero
                                                          R eceber aprovação;
                                                          B rasil é sempre celeiro,
                                                          A maior inspiração...
                                                          R icos somos, e bastante!
                                                          J á agradeço neste instante:
                                                          A benção, mestre Brandão!

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Cordel da RM Vale (2)

(texto produzido em 30/05/2016, a partir do II Colóquio "Diálogos Sobre a RM Vale")


O Estatuto da Metrópole
hoje é a nossa bandeira
para a metropolitana
governança brasileira;
presentes representantes
da nossa região inteira.

A proposta: construir,
colaborativamente,
democráticas propostas
que respeitem toda gente
e, em sua complexidade,
também o meio ambiente.

Trinta e nove municípios
compõem a RM Vale;
são 400 quilômetros.
Escute bem, não se abale: 
tdos querem ter direito a voz
- e que não se cale!

O professor Jeroen Klink
(UFABC) veio então
pra falar de governança
e reestruturação;
falou de uma "nova agenda"
e pediu muita atenção.

Ao falar de Curitiba,
disse haver também defeito;
citou o Rio de Janeiro
e disse que não há jeito
de achar que receita única
deixará tudo perfeito.

Pediu que se abandonasse
o "Plano Discurso", ou seja,
um texto vago, genérico
falando o que se deseja
mas que não desce aos conflitos
- tipo assim "revista Veja"...

Falou das experiências
como aquela do ABC,
região em que os conflitos
estão ali pra se ver
- isso é até importante,
pra se poder resolver.

Os embates lá surgidos
apontaram ser direito
investir tempo importante:
discutir cada conceito,
os cenários e tendências
- tudo assim fica bem feito.

Compartilhar governança
é superar, dia-a-dia,
as diferenças menores,
a falsa dicotomia.
Dou um exemplo: o que é Prosa
também pode ter Poesia.

Funding metropolitano
é o financiamento:
um problema muito sério
que pode ser um tormento
- sem a vontade política,
haverá sempre lamento...

Um exemplo: o PPP
seria associação
entre público e privado.
Ser ou não ser? A questão
é virar público-público
sem avançar muito não...

Vários fizeram perguntas
ao final da conferência.
O professor comentou
ser preciso transparência
com participação grande
do público em audiência.

(Paulo Barja)