Varal de Cordéis Joseenses

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sexta-feira, 3 de março de 2023

CJ 100 - Um cordel ambiental: Termelétrica? Aqui não!

 Segue o texto completo do Cordel Joseense 100. Quis o destino que fosse uma volta às origens: meu primeiro cordel, 15 anos atrás, falava (em forma de fábula infantil) sobre o problema da crise hídrica. Seguimos atentos às questões ambientais, por um motivo prosaico: o planeta poderia existir sem a gente, mas a gente não existiria sem este planeta - cabe cuidar, portanto...


O Brasil é um país
com mais de 80%
de sua matriz elétrica
renovável, dando alento
para nós: a maior parte
vem da água e do vento.

Porém, com as crises hídricas
e o consumo aumentando,
era mesmo inevitável
que surgisse um dia um bando
sem escrúpulo ambiental
- só se perguntava: quando?

É nesse exato contexto
que aparece o pesadelo:
gente querendo lucrar
ressuscitando um modelo
em que o combustível fóssil
ainda possui grande apelo.

Uma usina termelétrica
é uma instalação
que gera energia elétrica
a partir da combustão
de materiais diversos;
vou aqui contar quais são.

Termelétricas funcionam
usando gás natural,
bagaço de plantas, óleo,
também carvão mineral
e outros tantos materiais,
até pedaço de pau...!

Quando se queima isso tudo,
há geração de calor;
caldeira com água aquece
e assim produz o vapor
que em alta pressão, zás-trás:
gira da turbina as pás
num potente gerador.

A queima dos combustíveis
que tem por base o carbono,
tais como o gás natural,
é coisa que tira o sono:
lança impurezas no ar
- e a poluição, tem dono?

O gás carbônico gera
o efeito estufa temido:
aquecimento global,
ambiente poluído
e o drama global do clima,
que por nós já é sentido.

O problema é que o negócio
também gera, sim, dinheiro
e isso assanha político,
investidor e empreiteiro
sem consciência ambiental,
que, por grana, trata mal
o nosso país inteiro.

Prefeituras da região
afrouxam regulamentos,
esquecem os relatórios
e ajustam seus argumentos:
enxergam nas termoelétricas
muita grana, investimentos...

Tem cidade aqui no Vale
querendo “abrir o portão”
para instalar por aqui,
pra nossa insatisfação,
termelétricas pra gás,
óleo, madeira, carvão...

A desculpa é bem antiga:
“Há lixo a se acumular
 e o aterro sanitário
já tá quase a transbordar.”
Mas que solução é essa...
Botar tudo pra queimar?

Nossa região já sofre
com passivo ambiental
de indústrias poluidoras
que fizeram muito mal
a humanos e animais,
com seus pesados metais
contaminando geral

Na década de 90,
teve indústria em Caçapava
que, pra fazer bateria,
muito chumbo processava;
era pra gerar emprego,
mas só tirou o sossego
de quem por ali morava.

Há toneladas de chumbo
contaminando o local
e vários trabalhadores
até hoje passam mal;
a empresa, massa falida,
gerou caos ambiental.

Outro caso: a instalação
do aeroporto fracassado
pelo qual se desmatou
vegetação de Cerrado
até que o crime ambiental
na Justiça foi barrado.

Também a extração de areia
na várzea do nosso rio
foi tanta, e tão sem controle,
que degradou, destruiu:
“Ó, Paraíba do Sul,
 quem te vê e quem te viu!”

Termelétricas prometem
um mercado em expansão:
tecnologia simplória
facilita a produção...
Pro consumidor, porém,
a conta sobe e também
aumenta a poluição.

Gás metano de petróleo
agora é “gás natural”:
muitos querem produzir,
fingindo que não faz mal
e dizem que as termelétricas
são “um negócio legal”.

Um argumento furado
pro qual a mídia descamba:
“será de baixo carbono...”
Isso aqui não dá mais samba!
o gás natural também
é do carbono que vem:
também é fóssil, caramba!

Pesquisadores do INPE
criticam a instalação
de uma usina termelétrica
bem na nossa região.
O mundo não quer mais isso:
estamos na contramão.

No Vale do Paraíba
o vento é mais “circular”,
pois de um lado há Mantiqueira;
do outro, a Serra do Mar.
Os poluentes ficam presos,
sem poder se dispersar.

A falta de dispersão
na estiagem é agravada,
principalmente se ocorre
estiagem prolongada
- e no inverno a inversão
térmica é observada.

Isso leva à chuva ácida
por alta concentração
de partículas suspensas,
aérea poluição,
levando às águas e ao solo
grande contaminação.

Já temos diversas fontes
que geram poluição:
refinaria e indústrias
(diversas, na região)
e o tráfego na Dutra:
muito carro e caminhão...

O Estado de São Paulo
perante a ONU assumiu
compromisso de zerar
poluente até dois mil
e cinquenta... vai cumprir?
Desse jeito, não, já viu...

Luciana Gatti (do INPE)
declarou a um jornal:
“O foco desses projetos
 é usar ‘gás natural’;
isso deve ser vetado
 - e de modo integral!”

Outro alerta que ela faz:
as empresas, pra driblar
os relatórios e alertas,
podem até mascarar
a emissão dos poluentes,
pra questão minimizar...

A estratégia inventada
para negar a ciência,
ludibriar nosso povo
e aliviar a consciência:
fazer várias unidades,
todas de baixa potência...

Não é menos poluente:
é menos denso... melhor?
A carga poluidora
emitida é menor,
mas, se houver mais unidades,
a sujeira nas cidades
pode ser até maior.

E a água utilizada?
“De poços profundos vem...”
O abastecimento hídrico
do povo, não mais convém?
A usina teria água...
e a gente estaria sem?

Se a nossa bacia hídrica
já tem um consumo intenso
e o Paraíba do Sul
tanto é necessário, penso:
precisamos evitar
um risco insensato, imenso.

Além disso, a infraestrutura
para viabilizar
uma usina termoelétrica
poderá prejudicar
áreas de preservação,
patrimônio de um lugar.

Expansão de gasodutos,
de linhas de transmissão...
terminais GNL
precisam de construção,
assim como, claramente,
mais de uma subestação...

Em Caçapava, o complexo
termelétrico seria
num local onde já existe
muita gente e moradia...
Mudar pra longe ou ficar?
Quem o risco encararia?

É necessário parar
qualquer licenciamento
de projeto termoelétrico;
esse é um mau investimento
que, já vimos, põe em risco
saúde e abastecimento.

Falta muita coisa aqui:
pra começar, discussão
com toda a comunidade
e cientistas de plantão.
Cadê o estudo de impacto
ambiental? Eis a questão...

A população exige
consulta prévia, afinal,
e de grande envergadura,
pois o problema é geral
e requer um plebiscito
de abrangência REGIONAL.

Quem já conhece o assunto
não quer a instalação
de uma usina termelétrica
nem queimador de lixão
que é uma usina disfarçada,
mas não é a solução.

O uso das termelétricas
tem muito mais de 100 anos;
piora nossa saúde,
faz o clima sofrer danos
- por que não pensar em fontes
renováveis, novos planos?

Mas temos alternativas?
Claro – e sem poluente.
Nossa matriz energética
pode avançar bem pra frente
com a energia solar
e a eólica, gente!

Nosso território é grande,
temos sol e temos ventos,
um extenso litoral,
água boa... os elementos
pra uma vida sustentável,
pura, limpa e sem lamentos.

Mais pontos de geração
de energia renovável,
espalhados no país,
são estratégia notável:
energia ali gerada,
ali mesmo é utilizada...
custo menor, mais viável!

Porém, pra isso é preciso
fazer o aperfeiçoamento
da nossa legislação,
criar um regulamento
dando às empresas menores
linhas de financiamento.

A hashtag  #XÔTERMOELÉTRICAS
é campanha nacional
pra dar visibilidade
a esse drama ambiental;
propõe ações e audiência
pro povo tomar ciência
da situação real.

Precisamos reduzir
nossas taxas de emissão:
CO2 e poluentes
envenenam a nação...
Queimadas, desmatamentos
e usinas? Digamos “NÃO!”

Se a união faz a força
e a palavra esclarece,
é importante registrar
quando o ambiente padece.
Chega de destruição:
preservar é solução.
Só assim a gente cresce.

P.R.Barja, março/2023