sábado, 20 de maio de 2023
sexta-feira, 3 de março de 2023
CJ 100 - Um cordel ambiental: Termelétrica? Aqui não!
Segue o texto completo do Cordel Joseense 100. Quis o destino que fosse uma volta às origens: meu primeiro cordel, 15 anos atrás, falava (em forma de fábula infantil) sobre o problema da crise hídrica. Seguimos atentos às questões ambientais, por um motivo prosaico: o planeta poderia existir sem a gente, mas a gente não existiria sem este planeta - cabe cuidar, portanto...
É nesse exato contexto
que aparece o pesadelo:
gente querendo lucrar
ressuscitando um modelo
em que o combustível fóssil
ainda possui grande apelo.
Uma usina termelétrica
é uma instalação
que gera energia elétrica
a partir da combustão
de materiais diversos;
vou aqui contar quais são.
Termelétricas funcionam
usando gás natural,
bagaço de plantas, óleo,
também carvão mineral
e outros tantos materiais,
até pedaço de pau...!
Quando se queima isso tudo,
há geração de calor;
caldeira com água aquece
e assim produz o vapor
que em alta pressão, zás-trás:
gira da turbina as pás
num potente gerador.
A queima dos combustíveis
que tem por base o carbono,
tais como o gás natural,
é coisa que tira o sono:
lança impurezas no ar
- e a poluição, tem dono?
O gás carbônico gera
o efeito estufa temido:
aquecimento global,
ambiente poluído
e o drama global do clima,
que por nós já é sentido.
O problema é que o negócio
também gera, sim, dinheiro
e isso assanha político,
investidor e empreiteiro
sem consciência ambiental,
que, por grana, trata mal
o nosso país inteiro.
Prefeituras da região
afrouxam regulamentos,
esquecem os relatórios
e ajustam seus argumentos:
enxergam nas termoelétricas
muita grana, investimentos...
Tem cidade aqui no Vale
querendo “abrir o portão”
para instalar por aqui,
pra nossa insatisfação,
termelétricas pra gás,
óleo, madeira, carvão...
A desculpa é bem antiga:
“Há lixo a se acumular
e o aterro sanitário
já tá quase a transbordar.”
Mas que solução é essa...
Botar tudo pra queimar?
Nossa região já sofre
com passivo ambiental
de indústrias poluidoras
que fizeram muito mal
a humanos e animais,
com seus pesados metais
contaminando geral
Na década de 90,
teve indústria em Caçapava
que, pra fazer bateria,
muito chumbo processava;
era pra gerar emprego,
mas só tirou o sossego
de quem por ali morava.
Há toneladas de chumbo
contaminando o local
e vários trabalhadores
até hoje passam mal;
gerou caos ambiental.
Outro caso: a instalação
do aeroporto fracassado
pelo qual se desmatou
vegetação de Cerrado
até que o crime ambiental
na Justiça foi barrado.
Também a extração de areia
na várzea do nosso rio
foi tanta, e tão sem controle,
que degradou, destruiu:
“Ó, Paraíba do Sul,
quem te vê e quem te viu!”
Termelétricas prometem
um mercado em expansão:
tecnologia simplória
facilita a produção...
Pro consumidor, porém,
a conta sobe e também
aumenta a poluição.
Gás metano de petróleo
agora é “gás natural”:
muitos querem produzir,
fingindo que não faz mal
e dizem que as termelétricas
são “um negócio legal”.
Um argumento furado
pro qual a mídia descamba:
“será de baixo carbono...”
Isso aqui não dá mais samba!
o gás natural também
é do carbono que vem:
também é fóssil, caramba!
Pesquisadores do INPE
criticam a instalação
de uma usina termelétrica
bem na nossa região.
O mundo não quer mais isso:
estamos na contramão.
No Vale do Paraíba
o vento é mais “circular”,
pois de um lado há Mantiqueira;
do outro, a Serra do Mar.
Os poluentes ficam presos,
sem poder se dispersar.
A falta de dispersão
na estiagem é agravada,
principalmente se ocorre
estiagem prolongada
- e no inverno a inversão
térmica é observada.
Isso leva à chuva ácida
por alta concentração
de partículas suspensas,
aérea poluição,
levando às águas e ao solo
grande contaminação.
Já temos diversas fontes
que geram poluição:
refinaria e indústrias
(diversas, na região)
e o tráfego na Dutra:
muito carro e caminhão...
O Estado de São Paulo
perante a ONU assumiu
compromisso de zerar
poluente até dois mil
e cinquenta... vai cumprir?
Desse jeito, não, já viu...
Luciana Gatti (do INPE)
declarou a um jornal:
“O foco desses projetos
é usar ‘gás natural’;
isso deve ser vetado
- e de modo integral!”
Outro alerta que ela faz:
as empresas, pra driblar
os relatórios e alertas,
podem até mascarar
a emissão dos poluentes,
pra questão minimizar...
A estratégia inventada
para negar a ciência,
ludibriar nosso povo
e aliviar a consciência:
fazer várias unidades,
todas de baixa potência...
Não é menos poluente:
é menos denso... melhor?
A carga poluidora
emitida é menor,
mas, se houver mais unidades,
a sujeira nas cidades
pode ser até maior.
E a água utilizada?
“De poços profundos vem...”
O abastecimento hídrico
do povo, não mais convém?
A usina teria água...
e a gente estaria sem?
Se a nossa bacia hídrica
já tem um consumo intenso
e o Paraíba do Sul
tanto é necessário, penso:
precisamos evitar
um risco insensato, imenso.
Além disso, a infraestrutura
para viabilizar
uma usina termoelétrica
poderá prejudicar
áreas de preservação,
patrimônio de um lugar.
Expansão de gasodutos,
de linhas de transmissão...
terminais GNL
precisam de construção,
assim como, claramente,
mais de uma subestação...
Em Caçapava, o complexo
termelétrico seria
num local onde já existe
muita gente e moradia...
Mudar pra longe ou ficar?
Quem o risco encararia?
É necessário parar
qualquer licenciamento
de projeto termoelétrico;
esse é um mau investimento
que, já vimos, põe em risco
saúde e abastecimento.
Falta muita coisa aqui:
pra começar, discussão
com toda a comunidade
e cientistas de plantão.
Cadê o estudo de impacto
ambiental? Eis a questão...
A população exige
consulta prévia, afinal,
e de grande envergadura,
pois o problema é geral
e requer um plebiscito
de abrangência REGIONAL.
Quem já conhece o assunto
não quer a instalação
de uma usina termelétrica
nem queimador de lixão
que é uma usina disfarçada,
mas não é a solução.
O uso das termelétricas
tem muito mais de 100 anos;
piora nossa saúde,
faz o clima sofrer danos
- por que não pensar em fontes
renováveis, novos planos?
Mas temos alternativas?
Claro – e sem poluente.
Nossa matriz energética
pode avançar bem pra frente
com a energia solar
e a eólica, gente!
Nosso território é grande,
temos sol e temos ventos,
um extenso litoral,
água boa... os elementos
pra uma vida sustentável,
pura, limpa e sem lamentos.
Mais pontos de geração
de energia renovável,
espalhados no país,
são estratégia notável:
energia ali gerada,
ali mesmo é utilizada...
custo menor, mais viável!
Porém, pra isso é preciso
fazer o aperfeiçoamento
da nossa legislação,
criar um regulamento
dando às empresas menores
linhas de financiamento.
A hashtag #XÔTERMOELÉTRICAS
é campanha nacional
pra dar visibilidade
a esse drama ambiental;
propõe ações e audiência
pro povo tomar ciência
da situação real.
Precisamos reduzir
nossas taxas de emissão:
CO2 e poluentes
envenenam a nação...
Queimadas, desmatamentos
e usinas? Digamos “NÃO!”
Se a união faz a força
e a palavra esclarece,
é importante registrar
quando o ambiente padece.
Chega de destruição:
preservar é solução.
Só assim a gente cresce.
sexta-feira, 27 de janeiro de 2023
CJ 99 - PELÉ: a História em Cordel (da Vila à Eternidade)
segunda-feira, 14 de novembro de 2022
A Raposa e os Peixes (Paulo Barja) - cordel completo
Tartaruga e Passarinho (Paulo Barja) - primeira versão do cordel, completa
Paulo R. Barja (2010)
quinta-feira, 14 de outubro de 2021
CJ 97 - UM CORDEL A ANTONIETA (e a todos os professores)
A cada 15 de outubro,
nós precisamos lembrar
de uma grande professora
que soube nos ensinar
muito além até da sala,
pois quem sabe não se cala
- e vale a pena escutar.
Antonieta de Barros
foi formada professora
e a sua história de vida
é muito esclarecedora:
mostra a força feminina
de quem revelou ter sina
de mulher batalhadora.
Nascida em Florianópolis
em 1901,
Antonieta teve infância
bem humilde, até comum.
Seu registro só aponta
nome da mãe, que desponta;
mas nome do pai? Nenhum.
Catarina, sua mãe,
viveu a escravidão.
Liberta, foi lavadeira
e depois abriu pensão
onde abrigava estudantes;
vivia melhor que antes,
mas luxo não tinha não.
Foi assim, nesse ambiente,
que Antonieta estudou:
com os jovens da pensão
é que se alfabetizou
e, para adquirir cultura,
no universo da leitura
Antonieta mergulhou.
Não tinha nem 20 anos
quando abriu curso: queria
alfabetizar adultos
daquela periferia,
mas deu aula até pra elite,
depois que ganhou convite
de escola da burguesia.
Em seguida, acumulou
no currículo outro ofício.
Em seus textos pro jornal,
só abordou tema díficil:
preconceito, educação,
política - por que não?
Cada texto era um míssil.
"Mulher não tem que opinar,
pois nasceu para servir!"
"Seja rainha do lar,
não queira nos dirigir!"
Os homens da oligarquia
reclamavam todo dia:
"Ela não vai desistir?"
"Não somos virgens de ideias",
respondia Antonieta,
que afrontava aqueles ricos:
era mulher, pobre e preta!
E com sua visão crítica,
embrenhou-se na política:
não fugia de uma treta.
Foi na década de 30
que a novidade surgiu:
uma deputada negra,
a primeira do Brasil
- era ela, Antonieta!
Brancos fizeram careta,
porém, firme, ela seguiu.
Voz da luta feminina
em meio ao patriarcado,
escreveu diversos trechos
da Constituição do Estado,
mas quando Getúlio veio,
seu destino ficou feio:
o mandato foi cassado.
Passou-se então uma década.
A ditadura acabou
e Antonieta, no voto,
para a Assembleia voltou;
Porém, simultaneamente,
sua carreira docente
ela nunca abandonou.
Neste segundo período,
ela criou o projeto
depois oficializado
numa lei plena de afeto,
cidadania e valor:
o Dia do Professor
foi aprovado sem veto.
Na década de 40,
a data era estadual;
foi no governo de Jango
que o Brasil, afinal,
aprovou sua extensão
e o 15 de outubro então
passou a ser nacional.
Mesmo depois disso tudo,
houve um historiador
que ofendeu Antonieta
com uma frase de horror:
"Essa negra quando fala
é intriga de senzala!"
Mas por que falar da cor?
Antonieta respondeu:
- Fizemos do magistério
a razão de nossa vida,
o nosso ofício mais sério.
Respondo aqui no jornal
pois essa ofensa banal
não levo pro cemitério.
- Sua Excelência, por sorte,
poupa o povo da desgraça
pois não quer ser professor.
Há quem bem melhor o faça;
um professor, pra existir,
nunca deve distinguir
nenhuma classe nem raça.
Essa professora incrível
que tanto nos ensinou
era bem jovem ainda
quando, por fim, descansou:
50 anos de idade.
Mas ganhou eternidade
pelo que realizou.
Antonieta, por certo,
sempre manteve nobreza
e dizia que, da vida,
a sua maior grandeza
estava na Educação.
Eu concordo; e vocês, não?
Seja nossa essa certeza.
P arabéns aos professores:
R espeito, afeto e coragem.
B elo é o ofício exercido:
A rte humana da mensagem
R enovada a cada dia
J unto àquele que inicia
A ulas e aprendizagem.
Paulo R. Barja,
14 de outubro de 2021.
quarta-feira, 6 de janeiro de 2021
Mote: "Tudo que é muito difícil / traz também aprendizado"
TUDO QUE É MUITO DIFÍCIL
TRAZ TAMBÉM APRENDIZADO
O mundo é sala de aula:
para ser bem educado,
há que fazer o futuro
sem esquecer o passado.
Pode parecer difícil,
porém traz aprendizado.
Foi assim desde os primórdios:
muito pouco é planejado
- e às vezes alguém viaja
muito além do combinado...
Porém tudo que é difícil
traz também aprendizado.
O Brasil tem uma história
que nos dá triste legado:
violência, exploração,
todo um povo escravizado...
Que um passado assim difícil
traga seu aprendizado.
Por um tempo, já soubemos
conviver bem, lado a lado.
O preconceito podia
já ter sido superado...
Tudo que é muito difícil
traz também aprendizado.
Já tivemos no governo
presidente equilibrado;
com SUS, emprego, direitos
e um mercado bem cotado...
Veio o golpe. Que difícil!
Que venha o aprendizado.
Eu conheço muita gente
que acabou votando errado
e agora repete, em transe:
"O país está quebrado!"
Será? Tudo que é difícil
traz também aprendizado.
Resistência é um dever
que aqui cumpro de bom grado.
O Brasil já teve muito
perseguido e torturado,
porém tudo que é difícil
traz também aprendizado.
Precisamos de união;
que o ódio seja apagado.
O desafio é imenso,
mas deve ser enfrentado:
tudo que é muito difícil
traz também aprendizado.
P or isso lanço a pergunta:
B uscar justiça é errado?
A deus, milícia e fake news!
R asgo o verbo e dou recado:
J á se aproxima a mudança
A través do aprendizado.
quinta-feira, 24 de dezembro de 2020
segunda-feira, 21 de dezembro de 2020
CJ 95 - Um Cordel pro Ano Novo
UM CORDEL PRO ANO NOVO
(Paulo Roxo Barja)
Tudo que é muito difícil
traz também aprendizado.
Não me refiro com isso
a problemas do passado,
e sim do nosso presente:
um ano assim diferente
ninguém tinha imaginado.
Lá pro começo do ano,
um vírus bem traiçoeiro
espalhou-se insidioso,
atingindo o mundo inteiro.
Compreendemos o momento:
partimos pro isolamento.
Futuro era nevoeiro.
De repente, todo encontro
que seria presencial
foi, depressa, adaptado
ao formato virtual.
Meio aos trancos e barrancos,
tropeços e solavancos,
aprendemos: nada mal.
Antigamente, era assim:
o cavalheiro e a donzela
muitas vezes se encontravam
um na rua, um na janela...
agora, tudo acontece
- reunião, encontro, prece
e até aula pela tela.
Por incrível que pareça,
teve poesia e canção.
Entre uma prova e uma aula,
teve sarau, como não?
Sei que o ano não foi fácil...
Atesto, neste posfácio,
que não faltou emoção.
Lavar as mãos e usar máscara
é afeto, fraternidade;
são gestos significativos
na vida em comunidade.
Cada gesto assim ressoa
dentro de cada pessoa:
pura solidariedade.
A união é importante
- aliás, fundamental -
pra exercer cidadania,
cuidar do nosso quintal.
Ninguém aqui nega o fogo;
vamos virar esse jogo
antes do apito final.
Pro ano novo, propomos
a solidária campanha:
todos por um e um por todos
- eu ganho se o MUNDO ganha.
A ciência, com certeza,
percebe, na natureza,
essa verdade tamanha:
Cada mata e cada bosque,
cada árvore ou arbusto,
cada folha, cada ramo,
é vida e exemplo justo.
Não estamos isolados;
prosseguimos, conectados
para evitar qualquer susto.
A todos, fica a mensagem:
o futuro é uma criança
imprevisível e arteira
- poesia, música e dança.
Nessa vida severina,
vamos tomar a vacina:
ela se chama ESPERANÇA.