Arte de Lucaz Mathias (Cão) |
QUANDO É TEMPO DE ELEIÇÃO,
o trânsito até piora,
de tanto que a toda hora
há uma inauguração:
vias, praças... por que não?
Mesmo a obra em andamento
recebe, em meio ao cimento,
uma placa bem bonita.
Por isso eu peço: reflita
sobre esse acontecimento.
Político de carreira
joga dinheiro pro alto:
tudo ganha novo asfalto.
Não precisa? Que besteira!
A claque agita bandeira
e seu troco vai ganhando.
Político passeando
acena muito, à vontade
- pintou oportunidade,
sai logo cumprimentando.
QUANDO É TEMPO DE ELEIÇÃO,
todo semáforo é isso:
político que era omisso
vem apertar nossa mão.
Riscam a palavra “não”
lá do seu vocabulário;
prometem um dicionário
de coisas lindas e belas.
Acenam pelas janelas...
Pensam que o povo é otário!
E os santinhos? Quem aguenta?
Entopem até os bueiros.
Recursos eleitoreiros,
discursos que se requenta...
Tudo isso a gente enfrenta
exercendo a tolerância,
mas quero boa distância
de quem pressiona por voto,
pois não sou nenhum devoto
da pressa nem da inconstância.
QUANDO É TEMPO DE ELEIÇÃO,
se, na hora de almoçar,
a TV você espiar,
vai ter muita decepção.
Eu já dou a explicação:
é o horário eleitoral,
que pra mim pega bem mal
se não debatem propostas
- depois vão virar as costas
pro eleitor, pobre mortal.
Número de candidato
é o que mais se enfatiza
só para ver se enraíza
no cérebro. Como é chato!
Parece até carrapato
grudando em quem menos pensa
e transmitindo doença:
a tal “desinformação”.
QUANDO É TEMPO DE ELEIÇÃO,
pensar faz a diferença!
QUANDO É TEMPO DE ELEIÇÃO,
tudo é sentimentalismo:
“Mesmo que eu caia no abismo,
vou defender meu rincão!”
Nós bem sabemos que não:
o sujeito fala assim
porque sabe que, no fim,
consegue mais uns votinhos.
Chega a pisar em espinhos
pra se eleger, vai por mim!
Alguns posam de bonzinhos,
mas são reis do preconceito:
não quero um desses eleito
com seus discursos mesquinhos!
Queremos novos caminhos:
respeito à diversidade,
livre expressão da vontade
e poder de decisão.
QUANDO É TEMPO DE ELEIÇÃO,
queremos sinceridade!
QUANDO É TEMPO DE ELEIÇÃO,
tudo se escreve na areia;
eu acho uma coisa feia,
mas eles não acham não,
pois mudam de opinião
conforme seus marqueteiros,
que ensinam golpes certeiros
para agradar ao mercado,
deixando às vezes de lado
interesses brasileiros!
Velho sinal de campanha
é a dieta do político:
mastigando ansiolítico
como se fosse castanha,
aceita tudo que ganha,
repete almoço e até
as xícaras de café
toma doze sem demora...
depois diz “Não tenho hora
pra comer, sabe como é?”
QUANDO É TEMPO DE ELEIÇÃO,
muita coisa se promete:
em tudo “os cabra” se mete,
pra tudo tem solução...
mas, depois da apuração,
aí são outros quinhentos:
os preços sofrem aumentos,
surgem as dificuldades,
apaziguam-se as vontades,
e amontoam-se os lamentos.
Tudo isso nos desconcerta,
desanima e dá temor,
mas apelo ao eleitor:
investigue! Siga alerta!
Jamais adote a incerta
e insensata opinião
de achar que é tudo ladrão.
“Fora todos”? Não, diacho!
no meio de tanto escracho,
sempre se encontra exceção.
QUANDO É TEMPO DE ELEIÇÃO,
impressiona mal a mim
gente que só diz assim:
“Eu sou contra a corrupção!”
Não tem outro assunto não?
Esse papo é mais furado
que agenda de deputado
que na câmara só falta
e solta a desculpa incauta:
“É emenda de feriado...”
Candidato que se cala
sobre inclusão social,
mas acha muito normal
ir a jantares de gala,
não tem plano e nunca fala
sobre o apoio à Cultura,
quer voto na cara dura
mas comigo está ferrado
- e não voto no safado
que elogiar ditadura!
QUANDO É TEMPO DE ELEIÇÃO,
fique atento à inconsistência
de quem defende a violência
e vem dizer que é cristão.
Esse não me engana não!
Não voto nem por decreto
em quem humilha os sem teto
e ofende mulher ou gay,
descumprindo assim a lei
- e ainda jura que é correto!
Por fim, pesquise direito
quem é candidato a vice,
pra não ouvir “eu te disse!”
depois de acabado o pleito...
Pra vice ruim não tem jeito:
pode até espernear
mas, pra não ter que aguentar,
melhor dizer “ELE NÃO!”
já bem antes da eleição
– não se pode bobear.
P. R. Barja
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