Satanás:
Boa tarde, meus senhores:
sei que a data é santa, mas
vim aqui numa missão
bem certeira e contumaz.
É chegada a hora e vez.
Apresento-me a vocês:
o meu nome é Satanás.
Presido aqui o julgamento
de um indivíduo sem dotes
que na Terra aprontou muito:
carregou muitos malotes...
Talvez vocês o conheçam
e dele se compadeçam:
eis... Temer Iscariotes!
Começando o julgamento,
pois é esse nosso assunto,
já que tua Carne Fraca
não serve nem pra presunto,
escuta bem e responda
sem enrolação nem onda
o que agora eu te pergunto:
Do golpe que perpetraste
vais alegar inocência?
E o que dizer da Reforma
do Ensino e da Previdência?
Fizeste só por dinheiro
ou pra sentar o traseiro
no trono da Presidência?
Temer Iscariotes:
Que foi golpe, todos sabem;
isso é coisa que não nego.
Mas tenho motivo justo
e só não vê quem é cego:
num democrático pleito
eu jamais seria eleito...
no seu nariz isso esfrego!
Satanás:
Foste o intruso maldito
no rubro céu estrelado:
filho de Cruz Credo e Judas,
sujeitim dissimulado...
Mas o cheque de um milhão
para a Dilma não foi não:
foi pra você, seu safado!
T.Iscariotes:
Nisso não vejo problema
e não mereço o braseiro.
Satanás: a corrupção
está no Brasil inteiro...
FH - não lembra não? -
comprou sua reeleição
com sacolas de dinheiro!
Satanás:
E as missivas que mandaste à
Presidenta: só queixume!
Ali, tua falsidade
com certeza foi ao cume
e eu confesso, vou dizer,
tô doidinho pra saber:
tua mulher teve ciúme?
T.Iscariotes:
Nem ciúme nem remorso:
não me incomode no esquife.
A senhora Iscariotes
vive bem, come bom bife.
Ela tem tudo que quer...
Cunha e eu temos mulher
que é perua, mas de grife!
Satanás:
Deste almoço a mafiosos,
empregaste até ladrão;
foste o exemplo perfeito
de uma podre corrupção.
Se não quer se defender,
eu te aconselho a fazer
humilde retratação...
T.Iscariotes:
Sei que, no meu ministério,
muito ladrão empreguei;
se o Maluf posa de honesto,
isso é culpa minha, eu sei.
Mas algo aqui me redime:
quase nada disso é crime,
pois as leis eu já mudei!
Satanás anuncia o veredito:
Cara de pau! É bem claro
que teu crime foi doloso!
Julgamento, nesses casos,
é mais rápido e gozozo...
Não tente me subornar:
a recatada e do lar
já é minha, seu feioso!
Cá do alto da experiência
que em eras acumulei,
és um caso inigualável
como poucos eu julguei.
Ouve agora, sem um grito:
dou por encerrado o rito
e a pena anunciarei.
É opinião deste juri
soberano, irretocável,
que esse novo Iscariotes
claramente é condenável:
vai cumprir martírio eterno,
SEM SE APOSENTAR, no Inferno,
de modo inafiançável!
Cá embaixo já tem amigos
e parceiros de contrato:
muita gente de amarelo
da cabeça até o sapato,
sem contar a grande lista
daqueles que, na Paulista,
pagaram o Grande Pato!
Receberei novo hóspede
com uma festa caliente
onde ele vai conhecer
o meu famoso tridente
tomara que se sacie
por milênios e aprecie
sem querer ranger o dente!
Aos meus amigos demônios,
peço colaboração,
pois o novo morador
merece celebração:
fez do Brasil um inferno!
Cá terá trabalho eterno.
Bem merece a malhação!
Porém, antes que comece
seu infindável tormento,
há uma coisa imprescindível
que não tarda um só momento.
Ordeno então: seja fato.
Que a fase final do ato
seja assim seu TESTAMENTO!
Testamento do condenado
Aos quinze dias de abril
de dois mil e dezessete,
na cidade de São Paulo
de Piratininga, o set
é o Largo da Batata,
onde o que é mau se desata
nem que chova canivete.
Fui chamado a trabalhar
e por isso compareço:
eu, Satanás, Tabelião
do Ofício sem Endereço
lá da Comarca do Inferno,
onde muitos usam terno
mas ninguém merece apreço.
Perante mim comparece
Temer Iscariotes, réu
desprovido de caráter
(que já foi pro beleléu);
vem de família esquizoide:
Iscariotes Lumbricóide
sem esperança de céu...
Entre juras de amizade,
traição, golpe, tormento,
desfaçatez e saudade,
lança aqui seu testamento
sem temer desagradar
os capangas a aguardar
ansiosos tal momento.
Perante vós, testemunhas
desta solene ocasião;
também na presença ilustre
de parceiros de traição,
Iscariotes brasileiro
diz quem vira seu herdeiro
e quem vai lamber sabão:
T. Iscariotes:
– Eu, Temer Iscariotes,
Judas desclassificado,
disponho aqui sobre tudo
que amealhei no Estado.
Dar-vos-ei conta, ó chifrudo,
sem temer ser linguarudo:
ponho escrúpulos de lado
Deixo a Marcela Iscariotes
colher de prata e panela,
uma grana para as compras
e também uma tabela
para conferir os preços,
especialidade dela.
Do Cu-Cunha não me esqueço:
foi parceiro sem temer.
A grana ele ainda tem,
mas cagou-se ao perceber
que tinha ficado nu:
foi preso! Salvo seu cu
deixando as calças pra ele.
Deixo ao Fungador Aecius,
cem caixas de Novalgina,
pois manter um helicóptero
e ter que fazer faxina
dá muita dor de cabeça
- ainda mais com cocaína.
Para Dilma Roussefovsky
não deixo nada, nadinha:
nenhum cargo no governo
e nenhuma moedinha.
Fez pouco caso de mim?
Que se vire então sozinha!
Para os pobres também: nada!
Nem sequer um quinhãozinho,
pois tudo que eu possuía
vou passar pro Michelzinho,
pra que se aposente cedo,
bem como o pai, igualzinho.
Tenho ainda as oferendas
a quem me patrocinou:
a gangue lá dos States
que gosta de fazer show
e, na maior cara dura,
nosso petróleo levou.
Para meu parceiro ilustre,
o nobre senhor Dinheiro
(que falta que ele me faz
quando bate o desespero!)
deixo a dívida aumentada
desse país por inteiro.
Pra malfadada Esperança,
deixo labuta dobrada
pra poder se aposentar
só em idade avançada
- mas isso se antes a Morte
não lhe der sua foiçada.
O que sobrou do Brasil
fica a ser privatizado:
por isso mesmo é que eu fiz
tudo ser sucateado.
Parte do lucro da venda
vai pra Câmara e Senado.
Na verdade eu governei
na palavra do Senhor,
mas era o senhor de terras,
o empresário ditador,
o juiz comprado fácil
e o banqueiro usurpador.
Para o Povo Brasileiro,
seja da roça ou cidade,
nada deixo de valor:
que provem minha maldade!
Já perderam os direitos
e até mesmo a dignidade!
Se alguém quiser reclamar,
vai saber o que é desgraça:
deixo sem festa e sem dança!
Pra acabar, só de pirraça
eu baixo um decreto póstumo
proibindo a cachaça!
Esse povo preguiçoso
já não quer se escravizar,
gosta de samba e cachaça,
vive sempre a improvisar,
mas eu já tenho a medida
pra isso tudo se ajeitar:
vou proibir até água
e tudo vou censurar.
Crise hídrica de verdade
essa gente vai passar,
pois vou vetar a cachaça:
com sede eles vão ficar...
Só assim terei sossego
sem ninguém me incomodar.
Quer passear? Vá ao shopping,
esse sim é um bom lugar.
Não tenho saco pra gente
que a rua quer ocupar!
Deveras desagradável
essa gente que protesta
e despreza um presidente
que vai ter chifre na testa.
Comemoram muito agora
pois chegou a minha hora,
mas o povo é que não presta!
Essa gente aí do samba
não respeita autoridade:
dizem que fui presidente
sem ter legitimidade...
O golpe foi tucanóide!
Vão atrás deles agora!
Só de ouvir a bateria
eu já começo a tremer:
lembro que não tenho voto
nem quem vá me defender!
Satanás tá do meu lado,
mas tridente é de doer.
Pra sambistas direi sempre:
Vá de retro, arrastão!
Vão se meter na política
para acordar o povão?
Vocês só querem folia
e apreciam confusão.
Querem cantar sobre tudo,
fazer crítica... não dá!
Samba assim é perigoso,
mudem essa letra já!
Não citem o juiz Morus
nem meu parceiro Jucá...
Esqueçam cargo pro Serra
e conversa com Gilmar,
esqueçam pato do Skaf
que ajudamos a inflar
e (ai meu Deus) o MBL
não queiram nem comentar...
Eu fui um rei ruim e fraco
fraco mesmo de dar dó.
Vivi com medo de tudo;
fiz o que mandaram, só...
Não precisa fazer samba
pra desatar esse nó.
Nem pensem em vir pra rua
com instrumento na mão:
não é um bando de sambista
que vai ensinar lição.
O povo nem quer saber
que a gente é ruim de doer:
NÃO FAÇAM REVOLUÇÃO!
Saio daqui condenado,
tão fajuto como entrei;
logo vou virar carvão
e esquecerão que fui rei.
Eis a RODA DA FORTUNA!
Mas eu nem acho que errei...
Preciso reconhecer:
fui capacho sem igual,
medíocre, subalterno,
servente do capital.
Tô lascado e vão vocês
começar o Carnaval...!!!
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