Varal de Cordéis Joseenses

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domingo, 29 de março de 2020

CJ 93 - O Cordel da Quarentena

Em tempos tão difíceis para todos nós, cá no Brasil e no mundo, aí vai o Cordel Joseense sobre o tema mais relevante do momento: a quarentena contra a COVID-19. A capa - brilhante, como sempre! - é mais uma vez da Cláudia Regina Lemes.



Cidadãos do mundo inteiro
hoje estão ameaçados:
pelo tal Coronavírus,
muitos são contaminados.
O vírus é microscópico,
mas um futuro distópico
nos deixa preocupados.

A China caiu primeiro;
a Itália veio em seguida.
Alerta, a população
perguntava, dividida:
que providências tomar?
O que se deve evitar
para preservar a vida?

Depois de muito estudar
e fazer modelamento
da curva da pandemia,
propôs-se o isolamento
- que é físico e não mental,
pois é juntos que, afinal,
enfrentamos o momento.

Na Itália, houve um vacilo:
o prefeito de Milão
disse que jamais iria
demonstrar preocupação.
Em poucos dias porém,
a Itália ficou refém
da tal contaminação.

O vírus chegou na América
e, nos primeiros 10 dias,
o chefão lá dos States
(campeão das covardias)
também duvidou do mal
- um erro sempre fatal
  no combate às pandemias.

Qual o primeiro país
a superar 100 mil casos?
Acertou: the great America,
que pagou pelos descasos
e iludiu a consciência,
trocando a voz da ciência
pelos argumentos rasos.

Finalmente, os 2 países
engrossaram a corrente
de muitas outras nações,
adotando o expediente:
quarentena universal
para combater o mal
assim, olhando de frente.

Países de todo o mundo
adotaram sensatez:
fechando escola e comércio,
agiu-se com  altivez.
Alguns pedestres, incertos,
nos mercados inda abertos
entravam poucos por vez.

Neste cenário complexo,
tornou-se óbvia a verdade:
quando o povo de um país
passa por necessidade,
o Estado deve prover
condições para atender
toda a comunidade.

Numa crise desse porte,
há um papel pra cada um;
todos devem se ajudar
contra o inimigo comum.
Aula online, comércio idem,
peço a vocês: não duvidem!
Há campanha até em cartum.

Quanto à questão do consumo,
coisas tão "desimportantes"
quanto álcool gel e sabão,
esponja e desinfetantes
causam briga nessa hora
pois têm um valor agora
que nunca tiveram antes.

Só confesso que não sei
a razão de comprar tanto
rolo de papel higiênico;
essa questão eu levanto,
pois essa peste encrenqueira
não provoca caganeira...
É por isso que eu me espanto.

Passo aqui dias inteiros
no quarto ou no corredor
sonhando com comidinhas
simples, de grande sabor...
mas sempre amei abacate
e dei para o chocolate
o seu devido valor!

Aprendemos todos nós
- em casa, sítio, edifício -
como é duro o isolamento:
sentir-se preso é difícil!
A falta de liberdade
atinge cada cidade
como um invisível míssil.

Sentir-se fragilizado
é outro grande problema,
mas, nessa hora tão dura,
não faça disso um dilema:
exercite a empatia,
ouça um som, leia poesia,
mande afeto e nada tema.

Uma coisa é bem verdade:
o ambiente virtual
das aulas e das pesquisas
- trabalho intelectual -
não tem o calor humano
do nosso cotidiano,
mais que nunca essencial.

Eu, que nunca fui atleta,
dispensei o elevador:
desço 11 andares de escada
sem reclamar do "calor".
Viagem aventureira:
faço excursão à lixeira...
Depois, banho, por favor!

Seja artista ou cientista,
professor ou estudante,
cada cidadão que seja
consciente e atuante
quando escuta insanidades
num discurso de inverdades,
logo diz: "esse é farsante!"

Mas um mau pronunciamento
não tirará nosso empenho:
mantenhamos a corrente
com persistência e engenho
mesmo se algum soberano
corrupto e miliciano
contra nós franzir o cenho.

Carreata organizada
por ricos mostra demência:
querem fim do isolamento
por não ter mais consciência.
Escuto a trilha sonora
que estão tocando lá fora:
é o Hino da Independência!

Esse hino vem do tempo
em que havia escravidão;
representa um pesadelo
para quem tem coração,
mas, pelo ato bisonho,
acho que é tempo de sonho
pros canalhas de plantão.

Carreata de empresários
exige volta ao trabalho...
Ninguém ali pega ônibus!
Nada ali é ato falho:
têm lucros em altos níveis.
Empresários insensíveis,
vão pra casa do caralho!

O Mercado não é Deus
e ninguém aqui é tonto;
a Saúde é um direito
de toda pessoa e ponto.
Só existe Economia
se houver povo: pandemia
pede união, não confronto.

O papa deu grande exemplo
ao rezar a sua missa.
Na imensa praça vazia,
condenou toda cobiça;
numa comovente prece,
respeitando a OMS,
pediu Saúde e Justiça.

Nesses tempos tão difíceis,
a Vida ainda vale a pena.
Essa é a lição que persiste
na alma, nunca pequena,
de quem faz até canção
pedindo à população
que respeite a quarentena.

Ficar em casa é preciso
pra reduzir o perigo
de colapsar o Sistema
de Saúde. Meu amigo:
bote a cara na janela,
olhe o sol, a vida é bela
- e siga junto comigo!

Neste grande desafio,
somos como os mosqueteiros:
todos por um e um por todos,
por nós e pelos herdeiros
de um mundo enfim mais correto,
em que se cultive afeto,
amor e paz verdadeiros.


Paulo R. Barja

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